O Brasil elegeu 237 candidaturas de pessoas da comunidade LGBTQIAPN+ nas eleições para prefeitos e vereadores de 2024. Isso representa um recorde para o país, com um crescimento de aproximadamente 144% em relação às eleições de 2020. Esse avanço reflete uma crescente busca por cidadania plena e representatividade política para a comunidade.
Do total 154 pessoas são cisgênero (65%) e 40, transgênero (16,9%). De acordo com Gui Mohallem, que faz parte da diretoria da Vote LGBT, apesar do quantitativo expressivo, a comunidade ainda tem pouca representatividade nos cargos públicos.
“É muito fácil bater recorde quando se trata de um número tão pequeno. No congresso, por exemplo, nós temos quatro de 500, então é muito pouco. Porém, crescer de algum lugar é fantástico, o que estamos fazendo é dobrar a participação a cada eleição. Se pensarmos que nós somos 9% da população de acordo com os dados produzidos pela Havaianas com o Datafolha, a gente ainda tem muito chão para continuar dobrando a quantidade de pessoas LGBT na política”, pondera.
A maior parte das candidaturas eleitas são de partidos de esquerda com o PT liderando com 64 cadeiras nas câmaras municipais, porém há um número significativo de pessoas eleitas por partidos considerados de direita como o PSD, Republicanos, PP, PL e União Brasil.
Sobre o destaque de pessoas da comunidade em partidos considerados conservadores, Gui Mohallem ressalta que para além das dificuldades distintas entre cada cidade existe uma diferenciação da presença dos partidos nos municípios e exemplifica: enquanto o PSOL está em apenas 10%, o MDB está em 77% dos municípios brasileiros.
“As candidaturas LGBT não têm o luxo de escolher um partido, elas têm que ir para o partido que as aceita. Se no nível nacional temos partidos pró-LGBT e outros que bloqueiam e atacam, no campo do território isso fica um pouco mais confuso, porque lideranças de esquerda podem muito bem ser LGBTfóbicas e o contrário também acontece, presidentes de partidos locais de direita que tem abertura para a questão LGBT”, reforça Mohallem, que também explica que é necessário analisar se há viabilidade eleitoral e recursos financeiros para a execução da campanha eleitoral.
As eleições de 2024 foram as primeiras em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) coletou e divulgou informações sobre a identidade de gênero e sexualidade dos candidatos. Apesar de ainda não coletar informações sobre pessoas intersexo e não-binárias, de acordo com a Vote LGBT, com base nos dados do TSE, 3037 pessoas LGBTQIAPN+ se candidataram nesse ano.
Mohallem destaca a luta por cidadania plena da comunidade, que enfrenta barreiras no acesso à saúde, educação e política devido à discriminação e a violência. Segundo o entrevistado, desde o ano passado, foi realizada uma consulta pública com apoio de parlamentares para promover essa ação do TSE.
“Há dez anos, a gente sabia de três candidaturas abertamente LGBT. Então, saímos de três em 2014 para três mil dez anos depois. No momento do cadastro do TSE a pessoa podia declarar sua identidade de gênero e a sua orientação sexual, mas em cada um dos fatores você também tinha que falar se quer deixar isso público ou não. Portanto, não são três mil pessoas LGBT na política. São três mil pessoas que se declaram LGBT e falam que podem divulgar isso oficialmente. São pessoas que veem nisso um valor político”, enfatizou.
Por Marcus Matos