A Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) é um medicamento tomado diariamente como forma de prevenção à infecção pelo vírus do HIV. Em Feira de Santana (BA), a distribuição da medicação foi instituída em 2022 e já conta com 316 pacientes, que são acompanhados desde sua inserção à PrEP.
A maior parte das pessoas que fazem uso tem entre 25 a 29 anos de idade e faz parte da comunidade LGBTQIAPN+ de acordo com dados do Centro de Referência em IST/HIV/Aids do município.
Quem pode usar a PrEP?
Ítalo Dias, enfermeiro referência da unidade IST/PrEP, relatou que o uso das pílulas estão disponíveis para qualquer pessoa que tenha entre 15 e 60 anos que queiram uma maior prevenção contra a IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis).
“A PrEP está aí para todo mundo que tenha a necessidade, que tenha um vida sexual ativa com múltiplos parceiros e queiram se prevenir dessa infecção. Ela também já está interligada para adolescentes de 15 anos de idade até os 60 anos que queiram utilizar” enfatizou Ítalo Dias, que destacou também que apesar da maioria serem pessoas da comunidade LGBTQIAPN+, quaisquer pessoas independentemente da sexualidade e do gênero podem tomar a PrEP. Apenas em duas situações o paciente não pode fazer uso da medicação, são elas: caso a pessoa teste positivo para o vírus do HIV (vírus da imunodeficiência humana) e caso o exame de função renal dê como alterado.
Efeitos colaterais
O enfermeiro reforçou que a PrEP tem efeitos colaterais da mesma forma que qualquer outra medicação tem, mas que com o decorrer do uso, os efeitos vão passando.
“A PrEP tem efeitos colaterais como qualquer outra medicação que a gente toma. Qualquer medicamento, que a gente não é acostumado a tomar, pode ter os efeitos colaterais como náuseas, diarreia, flatulência, mas esses efeitos colaterais, eles possam ser que não persista muito no corpo, porque o nosso organismo absorvendo aquela situação e já acostumado com aquilo não desenvolva esses efeitos colaterais”, destacou o enfermeiro.
Um paciente do programa que não quis se identificar relatou que no início do uso da PrEP teve diarreia, mas que logo passou. “Eu tive apenas diarreia na primeira semana, mas logo passou”, disse.
Quero começar a usar. Como é feito o primeiro contato?
Ítalo frisou que o paciente deve ir ao Centro de Referência em IST/HIV/Aids, localizado na Rua Prof. Geminiano Costa, s/n – Centro para ter um primeiro contato e assim passar por exames.
“Nossos atendimentos são segunda e quarta pela manhã, quinta-feira o dia todo e sexta-feira à tarde. O serviço funciona todos os dias, mas os atendimentos do fluxo de PrEP funcionam nesses horários. O paciente vem, marca uma consulta e passa por uma entrevista, que pergunta como é que tá a vida sexual dele, quantos parceiros ele tem, se ele já teve IST, motivações e outras questões”, informou.
“A gente solicita exames laboratoriais, que são exames de rotina para a gente ver como está o organismo desse paciente para depois ele dizer que foi devido à PrEP que o sistema dele começou a modificar, então a gente solicita antes. Esses exames laboratoriais para ter um controle do paciente na primeira consulta. Ele leva um frasco de 30 comprimidos e retorna com 30 dias com o resultado desses exames. Assim a gente vai ter um exame que ele fez sem uso da medicação e vamos ter um depois com o uso da medicação para ver se teve alguma alteração”, concluiu.
Qual é a diferença entre PrEP e PEP?
“A Profilaxia Pré-Exposição, a PrEP, é destinada para os pacientes pra tomar essa medicação e inibir o vírus do HIV, ou seja, não desenvolver esse vírus no organismo. Então, como a gente tem a PEP, que é a profilaxia pós-exposição, a gente hoje tem a PrEP que é profilaxia pré-exposição”, definiu o enfermeiro.
Segundo o Ministério da Saúde, a PEP deve ser tomada durante 28 dias, sem interrupção, após a exposição ao risco do vírus HIV. Já a PrEP deve ser usada diariamente caso não seja PrEP sob demanda.
“Na própria entrevista, caso o paciente não tenha muita relação sexual, de forma esporádica durante o mês, a gente fala que caso ele queira mais pela prevenção mesmo, ele pode usar o medicamento sob demanda apenas quando tiver relação sexual” destacou Ítalo Dias, que acrescenta “Um exemplo, tenho uma relação sexual amanhã. Hoje, eu uso 2 comprimidos, então às 24 horas antes da relação sexual. Terminou a relação sexual de mais um comprimido e após as 24 horas eu uso mais outro comprimido. Então para cada relação sexual são utilizados quatro comprimidos”, informou o enfermeiro, que também enfatizou sobre caso o paciente tenha alguma relação sexual no quarto dia, ele não precisa tomar tudo de novo, basta tomar outro comprimido após a relação sexual.
Prevenção Combinada
Assim como diz o termo, segundo Ítalo Dias a prevenção combinada é a combinação de formas prevenção e testagens periódicas, garantindo que a pessoa se previna de uma forma mais completa contra ISTs.
“A PrEP previne o vírus do HIV, mas não quer dizer que o sexo seguro só vai ser com a PrEP, o sexo seguro é uma mandala. Eu preciso ainda usar a camisinha, a PrEP ou a PEP, como você queira. Preciso também usar lubrificante, fazer testagem rápida de Hepatite B, Hepatite C, Sífilis e HIV, usar as vacinações para Hepatite B para HPV, que inclusive pacientes de PrEP que tenha de 15 a 45 anos de idade têm o direito ao uso da vacina do HPV de forma gratuita”, explicou.
Importância da PrEP
De acordo com o responsável pelo setor da unidade, a medicação tem sua importância no que diz respeito à prevenção do vírus do HIV e melhorar a qualidade de vida das pessoas.
“A PrEP está aí para aperfeiçoar o atendimento. As pessoas que usam a PrEP podem ser uma pessoa que está namorando, que gostou de um parceiro que testou positivo para HIV, quer se relacionar com essa pessoa e ter uma segurança. Lembrando que a literatura hoje já traz que o indetectável é intransmissível, mas uma pessoa tem direito sim, de utilizar uma indicação para ter uma segurança com seu parceiro. Em casos também de mulheres que queiram engravidar e automaticamente não queiram pegar o vírus do parceiro pra ela passar pro seu filho”, considerou Ítalo Dias.
Em Feira de Santana foram detectados 216 casos de infecção pelo vírus do HIV no Centro Municipal de Referência em IST/HIV/AIDS do município durante os meses de janeiro a agosto de 2024. Isso equivale a 22% menos que no mesmo período do ano anterior, que registrou 277 infecções.
Jackeline Cardoso, enfermeira supervisora, enfatizou que a queda dos índices totais é resultado de uma maior distribuição de informações e o avanço dos métodos contraceptivos como a camisinha.
“A queda é resultado de conscientização e uso de preservativos, porque em Feira, a PrEP, por exemplo, se introduziu a apenas dois anos, mas que está melhor instalado e estamos tendo um fluxo maior para o seu uso”, evidenciou a enfermeira não descartando a possibilidade desses índices reduzirem ainda mais com o uso de novas formas de prevenção como a PrEP.
A incidência de casos de HIV é maior entre pessoas heterossexuais. Só no primeiro quadrimestre deste ano foram detectadas 59 pessoas que se relacionam com o gênero oposto. Já entre os homossexuais foram detectadas 42 novas infecções e entre bissexuais 13 infecções. Jackeline Cardoso destaca que isso se deve ao fato do maior cuidado de prevenção entre pessoas LGBTs em comparação com pessoas héteros.
“Devido a epidemia na década de oitenta, ficou enraizado o preconceito com pessoas homossexuais, mas, hoje em dia, isso caiu por terra. O preconceito ainda existe, porém os gays estão se cuidando mais e a nossa maior incidência é de casais héteros na faixa de 30 à 50 anos. É aquela coisa de se pensar que com os outros pode acontecer, mas com a gente não”, ressaltou.
Como é o caso do paciente entrevistado que desejou não ser identificado na matéria, que após o término do seu namoro decidiu iniciar o uso do medicamento.
“Eu comecei a usar PrEP depois de ter saído de uma relação monogâmica de sete anos e estar solteiro no momento como forma de prevenção. Apesar de poucas pessoas saberem, ninguém nunca me julgou por usar e nenhum tipo de preconceito é bom. Geralmente ele decorre de falta de informação, portanto se informem”, destacou.
Por: Marcus Matos